Fazia um dia quente de verão, as crianças brincavam e riam com a chegada do carnaval. Serpentinas e confetes voavam entre o turbilhão de pessoas.
E alí, em um canto, escondido de todos, amuado no chão suo e escuro, um homem alto e esguio observava. Parecia cabisbaixo e deprimido. Seus olhos seguiam uma menina. Não, não uma menina, uma mulher. Uma jovem e linda mulher, de olhos claros e sonhadores, longos cabelos lisos de um castanho brilhante, rosto em formato de coração e lábios rosados e sedutores. Tão bela. Certamente a dama mais linda do salão.
Ah, se ele ao menos tivesse coragem de levantar e ir até ela. Se não fosse tão tímido ou covarde ou...ou... ah, bem, de que adiantava? Era tão sem graça que não conseguia nem arranjar um adjetivo bom (ou seria ruim?) o suficiente que o descrevesse.
E então seu coração parou. Aquele cara novamente. Aquele bobo alegre tão diferente de si. Rindo e cantando, passando serelepe, brincando com as crianças e roubando-lhes os doces como traquinagem. Como aquele boboca tinha exatamente tudo aquelo que sempre quisera? Não a graça ou a felicidade, mas ela.. Sua musa!
E foi com grande estardalhaço que tirou sua dama para dançar. Rodopiando e girando a moça, fazendo-na gargalhar como uma pequena e reluzente fada.
Ela se derretia por ele e as palavras encantadas que sussurrava em seu ouvido faziam-na atingir um doce tom corado.
Tanta inveja tinha. E como se não bastasse, podia ouvir as pessoas cochichando e fofocando.
-Ah coitadinho! - comentava a velha para a vizinha feiosa.
-Quem? - a outra interesseira na vida alheia revidava. Os olhos brilhando em Êxtase e curiosidade.
-Pierrôt. Está chorando pelo amor da Colômbina no meio da multidão....