segunda-feira, 26 de abril de 2010

Estúpidas escolhas


Ela sorria abobadamente e seus olhos desfocavam da realidade. Pegou a bebida e tomou de uma vez, fazendo uma careta. Alvo fácil.

Se aproximou, olhando pra ver se estava mesmo sozinha.

-Olá. - Usou sua melhor voz galante.

Ela o olhou de cima abaixo e por fim virou o rosto ignorando-o.

-Não sabia que falta de educação fazia parte de suas qualidades.

-Desculpe, não falo mais com homens.

Enrugou a testa. Pediu mais duas tequilas, uma pra si e uma pra ela e sentou-se ao seu lado.

-O que aconteceu?

-Não é da sua conta.

Fez uma cara amarga e respirou fundo.

-Por que me chamou se não queria falar comigo então?

Ainda sem olhá-lo balançou os ombros e olhou para a dose que chegara.

-Esqueci que você fazia parte do time masculino.

Ele riu.

-Vocês não prestam sabia? Sempre a mesma história. "Blábláblá, você é diferente, blábláblá eu não gosto mais dela, blábláblá..." Nos fazem acreditar para no fim voltar como um cachorrinho quando a outra assobia.

-Você procura nos lugares errados.

-Tem razão! Me mostre onde posso achar um decente.. Ah espera! Não tem!!

-Você está sendo radical.

-Não estou. É o fim dos homens pra mim. Chega!

-Ok então, ao seu recomeço sem homens!

Brindaram e engoliram a bebida queimante e antes que pudessem fazer caretas enfiaram um pedaço de limão na boca.

A garota sorriu triste. O celular vibrou e parou. "Onde você está? Estou com saudades. Vou passar na sua casa!"

Bufou, por que raios ele insistia? Pegou o casaco.

-Obrigada pelo shot.

-Onde você vai? - arregalou os olhos!

-Quebrar minhas promessas e me torturar mais um pouco. Amanhã te ligo pra reclamar de mim.

Piscou um olho e jogou um beijo no ar, saindo pela porta do bar barulhento, indo em direção ao seu destino inevitável.

domingo, 18 de abril de 2010

Backstage


Primeiro você põe a roupa, se maqueia, arruma o cabelo, entra no carro e parte.
A ansiedade bate forte no camarim. Você conversa animada com suas amigas, conhecidos vem te desejar boa sorte e falam como você está bonita. Suas mãos suam, mas seus olhos brilham.

O espetáculo começa, e você aguarda - impaciente - a sua vez. Checa a sua segunda roupa, confirma se o cabelo está bem preso, ajuda as crianças menores, por fim chama seu grupo e faz um mini ensaio pra relembrar tudo.

A curiosidade prevalece: "será que tem muita gente?" "Onde meus pais estarão sentados?" "Ai! Que eu não erre nem esqueça nada, por favor!" No último pensamento você se desespera e treina mais uma vez. Oh! Não! O que vinha depois daquilo mesmo? Você corre para a integrante mais perto e pergunta a ordem dos passos. Com medo de mais um branco, vocês treinam a última vez.

Só mais dois números na sua frente, seu elástico de cabelo estoura quando você já está posicionada do outro lado do palco aguardando os 7 minutos restante. Então você corre por trás das cortinas, derrapa, não cai. Prende o cabelo novamente, passa três elásticos para garantir, e uns grampos, para firmar bem. Já é quase sua vez! Corre novamente para o oposto do palco e espera.

Seu coração volta a acelerar, você sua frio. "Respire fundo", fala a voz na sua cabeça. Você puxa o ar, prende por uns segundos e o solta lentamente. Sente seus rítmos cardíacos diminuirem e a confiança voltar.

A música começa lenta, as luzes ainda estão escuras, você vai pisar nos tacos de madeira em menos de segundos! Toda a técnica para acalmar os nervos vai por água abaixo, e você sente que as batidas disparadas do seu coração estão mais altas que a música.

Inspira fundo e pisa. Vai até o seu lugar e tudo passa. Tudo se apaga. Você não pensa em mais nada. Sua mente é fumaça, as pessoas somem, tudo desaparece, só está você! Você e a música.

Seus pés se movem sozinhos com graça, seguem as batidas sem erros. A música vibra alto em seu corpo e em menos de segundos tudo acaba. Só volta a si ao som dos aplausos.
As pessoas estão de pé, as palmas soam alto em seus tímpanos.
Você está arquejando, cansada. Sorrindo, feliz. Olha seu grupo, todos estão contentes, vocês agradecem, as cortinas se fecham.

Vem a euforia, tudo fôra ótimo e passara rápido demais. Vocês gritam e comemoram, se abraçam e riem.
E você não pensa mais nada.
Foi perfeito...

sábado, 17 de abril de 2010

Tudo ao mesmo tempo agora


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Ufa!! Quanta coisa desde que vim pro Rio!!

domingo, 11 de abril de 2010

Por que tão cedo?


Muitos diriam que eu deveria começar esse post falando da recente chuva e de seus desastres, das centenas de pessoas que perderam suas casas, seus móveis e suas memórias. Talvez eu devesse falar das 200 pessoas que se foram, da tristeza de seus familiares, de como essas pessoas estão desoladas. Tantas coisas se foram, tantos entes queridos. Mas falar que estou imensamente triste por eles, seria mentira, de minha parte.

Claro, sinto muito por cada uma que se foi nessa tragédia, mas a grande verdade é que eu não os conhecia. Nenhum deles era importante para mim, nenhum deles fazia a mínima diferença sequer, na minha vida. Não os menosprezo, mas de uma certa maneira, é como se nunca tivessem existido.

A chuva se foi, a tempetade já passou e agora temos que nos reeguer, mas então por que eu sinto que a minha tragédia acabou de começar? Por que eu sinto tanto por uma pessoa em especial? Como uma única pessoa pode fazer um estrago tão grande, que 200 não chegaram nem perto?

Um evento, um sopro de momento, me afeta de uma maneira que uma semana de chuva torrencial não me afetou, essa pequena mudança de rumo, faz muita diferença pra mim.
Não sentia carinho, nem amor, nem afeto, nem saudade de nenhum desses desconhecidos, mas essa pessoa nem bem se foi e já deixou muitos olhos vermelhos marcados pelas lágrimas.

Bem, eu só quero que saiba, que sinto sua falta...

Te amo, para sempre!